Reposição hormonal ajuda a aliviar desconfortos na menopausa

Antes visto como arriscado, tratamento pode ser opção para maioria das mulheres

As mulheres envelhecem porque os hormônios acabam, ou os hormônios acabam porque elas envelheceram? A resposta permanece indecifrada pela ciência, segundo a ginecologista Mariana Halla. Fato é que, com a idade, há mudanças significativas na produção de hormônios, e os efeitos disso podem ser sentidos não só na pele, mas na saúde como um todo. E aí surge outra questão: estes hormônios devem ser repostos? Há riscos para a saúde?

No início dos anos 2000, um estudo do Women’s Health Initiative (WHI) revelou que o risco de câncer de mama aumentava após cinco anos de reposição hormonal. A repercussão foi grande e até hoje há pessoas que temem o risco. Segundo Mariana, porém, o hormônio utilizado na época foi sintetizado a partir de substâncias que não eram reconhecidas pelo nosso corpo – o que aumentava também o risco de trombose. No entanto, atualmente já existem hormônios biodênticos, que simulam as moléculas produzidas pelo corpo e reduzem o risco de efeitos colaterais a praticamente zero, ainda de acordo com a ginecologista.

“O que sabemos é que um tamanho não serve para todas. Ainda existem riscos, como em qualquer tratamento, mas a melhora na qualidade de vida de quem sofre com os efeitos da queda de produção hormonal é significativa”, explica o endocrinologista reprodutivo Wulf Utian. Embora não exista limite de tempo durante o qual o tratamento pode ser feito, o ideal, segundo Mariana, é começá-lo assim que os primeiros sintomas aparecerem, geralmente próximo à menopausa, por volta dos 50 anos. Ondas de calor, distúrbios sexuais e no sono, depressão, cansaço e problemas nos ossos são alguns deles.

Menopausa. Oficialmente, a menopausa é quando a mulher fica pelo menos um ano sem menstruar. Com isso, a produção de estrogênio e progesterona, que participam da formação dos óvulos, cai consideravelmente. O estrogênio é o principal hormônio da reprodução e dá características femininas ao corpo da mulher. Além disso, ajuda a proteger o coração, os ossos e a diminuir o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou derrames.

Já a progesterona é o hormônio responsável pela gestação, que também atua na proteção cerebral e na regulação do sono. Embora os especialistas ainda não tenham uma explicação definitiva, eles acreditam que estes hormônios afetam de alguma maneira a zona termogênica do cérebro, responsável por controlar a temperatura do corpo. Este seria o motivo para as ondas de calor, que prejudicam a maioria das mulheres nesta fase.

“Em mulheres que ainda possuem o útero, o ideal é combinar o estrogênio (de preferência por via cutânea) com a progesterona”, explica Utian, que também é fundador da Sociedade Norte Americana de Menopausa. Nenhum estudo foi feito, porém, em mulheres com histórico de câncer de mama. Na opinião de Utian, nestes casos a reposição só é recomendada se os desconfortos forem severos. “Todo tratamento possui benefícios e riscos em potencial. A decisão de fazê-lo ou não, no fim, cabe à mulher e seu médico”, completa.

A alternativa mais comum para a reposição hormonal são antidepressivos, que têm baixa eficácia, estimada em 60% – a média de resposta à reposição hormonal é de 96%.

Outros hormônios. Além do estrogênio e da progesterona, cai também a produção de testosterona e DHEA (desidroepiandrosterona). O primeiro é o principal hormônio masculino, mas nas mulheres tem função importante na sexualidade e libido. O DHEA tem efeitos principalmente na cognição e atua na prevenção de doenças crônicas, como diabetes e glaucoma, e degenerativas. No Brasil, a comercialização de cápsulas de reposição deste hormônio foi proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob o argumento de que estava sendo usado indiscriminadamente.

Disponível no site E+ Estadão – por Marília Marasciulo

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